A compreensão através da experiência.

A compreensão através da experiência.

Brian Weiss. O Passado Cura. A Terapia Através de Vidas Passadas. Editora Pergaminho, 1999. O portal.O Doutor em Psiquiatria Brian Weiss relata suas investigações iniciais em busca de referências sobre a reencarnação após seus primeiros passos com a técnica da terapia de vidas passadas.

Após seu ceticismo inicial começa a investigar se outros terapeutas no passado chegaram ao mesmo descobrimento. Também investiga sobre o tratamento relacionado à reencarnação feita por diferentes religiões e como os principais credos monoteístas não o mantiveram na sua doutrina apesar de que alguns dos seus praticantes compartem essa evidência.


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Através da Experiência em Busca da Compreensão.


Muitas vezes um novo paciente ou aluno de um curso prático me faz uma confidência do tipo: «Dr. Weiss, estou interessadíssimo em experimentar uma regressão a vidas passadas, mas tenho tido alguns problemas para conseguir aceitar o conceito de reencarnação.»

Se você leitor se sentir desta maneira, você não esta só. Com frequência, esta é uma parte preliminar da terapia com estes pacientes.

Muitas pessoas procuram um esclarecimento a este respeito antes de iniciarem o processo de regressão.

Fazer isto representa muitas vezes uma parte preliminar da terapia realizada com estes pacientes, e é tema comum de perguntas e respostas em cursos práticos e conferências.

Antes da minha extraordinária experiência com Catherine, eu mesmo me sentia extremamente céptico a respeito do conceito de reencarnação e do potencial de cura inerente a uma regressão a vidas passadas. E mesmo depois, necessitei vários anos mais para ser capaz de assumir o compromisso de divulgar publicamente as minhas novas crenças e experiências.

Embora a terapia de Catherine tenha modificado radicalmente a minha compreensão da natureza da vida e da natureza da cura, hesitava em permitir que outras pessoas ficassem ao corrente dessas profundas experiências, porque receava que pudesse vir a ser considerado por colegas e amigos como «louco» ou «esquisito».

Por outro lado, havia recebido mais confirmação sobre a eficiência da terapia de vidas passadas ao conseguir tratar com sucesso mais pacientes usando esta técnica.

Sabia que precisava aliviar o meu mal-estar para conseguir resolver esta situação. Foi assim que me decidi a consultar a biblioteca médica para verificar se existiam outras investigações. O clínico lógico e ortodoxo que existia em mim aprovou esta solução do problema, e eu esperava que existisse uma validação a respeito.

Se eu tinha tropeçado acidentalmente com recordações de vidas passadas, estava convencido de que outros psiquiatras, usando técnicas hipnóticas, também tivessem tido experiências similares. Talvez um deles tivesse tido a coragem suficiente para relatar essas experiências vividas.

Senti-me decepcionado ao encontrar apenas alguns, embora excelentes relatórios de pesquisa. Encontrei por exemplo a documentação de casos do Dr. Ian Stevenson, em que crianças recordavam aparentemente detalhes de vidas passadas.

Muitos desses detalhes seriam corroborados mais tarde por pesquisas investigativas.

Isto era muito importante porque contribuía para fornecer provas validas que confirmavam o conceito de reencarnação. Mas pouco mais ou mesmo quase nada podia ser encontrado a respeito do valor terapêutico da regressão a vidas passadas.

Saí da biblioteca ainda mais frustrado do que quando entrara. Como é que isto era possível? A minha própria experiência já me permitira estabelecer uma hipótese de que a recordação de vidas passadas podia constituir uma ferramenta terapêutica muito útil para uma enorme variedade de sintomas psicológicos e físicos.

Porque é que mais ninguém apresentara um relato da experiência que tivera? Além disso, porque é que não havia praticamente nenhum material na literatura profissional da experiência de vidas passadas que emergisse durante a hipnoterapia clínica? Não me parecia provável que essas experiências pudessem ser exclusivamente minhas.Com certeza outros terapeutas também as haviam tido.

Fazendo uma retrospectiva me dou conta de que o que eu realmente queria, era encontrar alguém que já tivesse feito o trabalho que eu iria fazer em breve.

Nessa altura só conseguia tentar imaginar se existiriam outros terapeutas tão hesitantes como eu para seguir em frente.

Uma vez concluída a minha investigação sobre a literatura a respeito deste tema, sentia-me dividido entre o poder e a realidade das minhas próprias experiências diretas e o receio de que novas crenças sobre a vida depois da morte e o contacto com mestres-guias pudessem ser considerados «não adequados», tanto sob um ponto de vista pessoal como profissional.

Foi assim que decidi consultar uma outra disciplina. Do curso de religião que frequentara na Columbia University recordava como as principais tradições do Oriente, o Hinduísmo e o Budismo, defendiam a reencarnação como um dogma fundamental, e como nessas religiões o conceito de vidas passadas é aceitado como um aspecto básico da realidade. Aprendi igualmente que a teoria Sufi do Islão apresenta uma tradição muito bela a respeito da reencarnação, transmitida sob a forma de poesia, dança e canções.

Simplesmente não podia acreditar que durante milhares de anos de história das religiões ocidentais não houvesse ninguém que tivesse escrito o que quer que fosse a respeito de experiências como a minha. Era impossível eu ter sido o primeiro a receber essa informação. Vim a descobrir mais tarde que tanto no Judaísmo como no Cristianismo, as raízes da crença na reencarnação são muito profundas.

No Judaísmo, uma crença fundamental na reencarnação, ou Gilgul, existiu durante milhares de anos. Essa crença constituiu uma pedra angular da fé judaica até cerca de 1800-1850, altura em que a urgência de «modernizar» e de ser aceito pelo sistema ocidental mais científico transformou as comunidades judaicas da Europa Oriental.

No entanto e até essa altura, portanto há menos de dois séculos, a crença na reencarnação foi fundamental e constituiu um dos conceitos básicos. Nas comunidades Ortodoxas e Chasidic, a crença na reencarnação ainda hoje se mantém inabalável. A Cabala, literatura mística judaica datando de há muitos milhares de anos, está cheia de referências à reencarnação. O Rabi Moshe Chaim Luzzatto, um dos mais brilhantes académicos hebraicos dos últimos séculos, definiu o gilgul, na sua obra The Way of God: «Uma alma individual pode ser reencarnada por diversas vezes em diferentes corpos, e desta maneira pode corrigir o mal causado em encarnações anteriores. De modo análogo, também pode atingir um grau de perfeição que não conseguira em encarnações prévias.»

Quando pesquisei a história da Cristandade, descobri que referências iniciais sobre a reencarnação existentes no Novo Testamento haviam sido eliminadas no século IV pelo Imperador Constantino quando o Cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano. Segundo parece, o imperador havia sentido que o conceito de reencarnação ameaçava a estabilidade do império. Os cidadãos que acreditassem que poderiam ter uma outra oportunidade de vida poderiam mostrar-se menos obedientes e cumpridores da lei do que aqueles que acreditavam num único Dia do Julgamento para todos.

No século VI, o Segundo Concílio de Constantinopla reforçou a atitude de Constantino, declarando oficialmente que a reencarnação era uma heresia. Como acontecera no caso de Constantino, a Igreja receava que a ideia de vidas anteriores enfraquecesse e minasse o seu poder crescente, concedendo aos fiéis demasiado tempo para procurarem a salvação. Chegaram à conclusão de que o látego do Dia do Julgamento era necessário para garantir as atitudes e comportamento adequados.

Durante a mesma Era Cristã Inicial, que se prolongou até ao Concílio de Constantinopla, outros sacerdotes da Igreja como Orígenes, Clemente de Alexandria, e Santo Jerónimo, aceitaram e acreditaram na reencarnação. O mesmo se passou com os Gnósticos. Muito mais tarde, por volta do século XII, os Cristãos Cátaros de Itália e do Sul de França foram severamente perseguidos por causa da sua crença na reencarnação.

Enquanto reflectia sobre todas as novas informações que reunira, cheguei à conclusão de que para lá da sua crença na reencarnação, tanto os Cátaros como os Gnósticos ou os Cabalistas, todos tinham outro valor em comum: uma experiência pessoal muito além daquilo que somos capazes de ver ou de apreender com as nossas mentes racionais ou aquilo que é ensinado por uma estrutura religiosa é uma fonte básica de sabedoria espiritual. E esta experiência pessoal directa promove de uma forma poderosa um crescimento espiritual e pessoal. Infelizmente, a partir do momento em que as pessoas começaram a poder ser punidas por crenças não ortodoxas, os grupos aprenderam a mantê-las em segredo. A repressão dos ensinamentos de vidas passadas foi uma questão política e não espiritual1.

E foi assim que eu comecei a compreender os «porquês». Eu mesmo tinha o receio de poder ser punido pelas minhas crenças, se as tornasse públicas. E, no entanto, sei perfeitamente que as pessoas têm o direito de terem acesso aos instrumentos que lhes permitem o desenvolvimento e a cura, e concluí com a ajuda da minha experiência clínica que a regressão a vidas passadas pode curar e transformar as vidas das pessoas. Sei igualmente que os pacientes se tornam melhores, membros mais úteis para a sociedade e para as suas famílias, com muito mais para oferecer.

Mas mesmo depois da publicação do meu livro Muitas Vidas, Muitos Mestres (Many Lives, Many Masters) continuava à espera das consequências. Esperava que os meus colegas médicos me ridicularizassem, que a minha reputação ficasse manchada e talvez até que a minha família viesse a sofrer. Os meus receios eram infundados. Embora tivesse chegado ao meu conhecimento que um ou outro colega tivesse feito comentários à respeito do tipo «pobre Brian que estava completamente desnorteado», em vez de perder o apoio de amigos e colegas, ainda ganhei mais. Também comecei a receber cartas – cartas maravilhosas – de psiquiatras e psicólogos de todo o país, que tiveram experiências idênticas à minha mas que não tinham se atrevido a publicá-las.

Tudo isto representava para mim uma poderosa lição. Assumira o risco de documentar e apresentar minhas experiências ao público e ao mundo profissional, e a minha recompensa era conhecimento, validação e aceitação. Além disso, aprendera que a compreensão nem sempre começa por uma leitura nas bibliotecas dos relatórios dos estudos efectuados. Também pode surgir de uma exploração da própria experiência.

A intuição pode levar-nos ao intelecto. As duas coisas podem encontrar-se; podem alimentar-se e inspirar-se uma à outra. Foi isso que haviam feito por mim.

Conto esta história por causa das preocupações que o leitor possa ter – um certo conflito entre os seus conhecimentos experimentais e intelectuais – podem, na sua essência, ser similares às minhas. Há muitas pessoas que passaram pelas mesmas experiências e têm as mesmas crenças que você, talvez muitas mais do que aquelas que possa imaginar. E muitas dessas pessoas não se sentem com coragem de comunicar as suas experiências pelas mesmas razões que as suas. Poderá haver outros que cheguem a expressá-las, mas em privado, É importante manter a mente aberta, e ser fiel as suas experiências. Não deixe que os dogmas e as crenças dos outros minem a sua experiência pessoal e a sua percepção da realidade.

Doutor Brian Weiss. O Passado Cura. A Terapia Através de Vidas Passadas. Editora Pergaminho, 1999.
Correção em relação à versão original em inglês: Marisabel Tropea.


Joseph Head and S. L. Cranston. Reincarnation: The Phoenix Fire Mystery (Reencarnação: O Mistério do Fogo da Fênix). O portal.Nota:

1Ver Reincarnation: The Phoenix Fire Mistery (Reencarnação: O Mistério do Fogo da Fênix) de Cranston e Head para um estudo excelente na história do tratamento político e social no conceito de reencarnação no Ocidente.